Foi essa a pergunta que eu lhe fiz mais uma vez, por mais uma ocasião. "Lá está o senhor padre a controlar a cena!", disse em jeito de reparo para que eu notasse que não gosta de ser controlado. "Aquilo era uma grande seca e o pessoal não aparece. Assim não tem piada; não mexe connosco; não adianta nada."
Todos os critérios que eu não gosto de ouvir. Apetece-me berrar... Seria uma gritaria inútil mais uma vez.
Tento outra abordagem: "Sabes qual é a nossa diferença? - disse eu calmamente puxando de um cigarro.
Tu só pensas nos que não estão cá. Eu só penso nos que cá estão, nos que participam. E mesmo que fossem só duas pessoas, serão essas que um dia hão-de ser exemplos para os outros, hão-de mexer com os outros, hão-de cativar os outros, hão-de criar um brilho nos olhos dos outros.
Tu achas que deixas alguém com um brilho nos olhos? Quando os teus olhos forem capazes de perceber se aquilo que tu és, fazes e dizes gera ou não um brilho nos olhos dos outros, então pensa assim: "Se tem brilho, bendito seja Deus, estou a ajudar alguém a ser feliz".
Se não tiver o brilho nos olhos pensa antes: "O que estou a fazer ou a não fazer para que não haja brilho naqueles olhos?" E, talvez assim, vejas como é importante fazeres brilhar os olhos das pessoas que te amam.
Enquanto os teus olhos não distinguirem o brilho ou a falta dele nos olhos dos outros não sabes distinguir o que é uma vida correcta ou uma vida irresponsável, uma vida com amor ou de futilidades, uma vida com Deus ou sem Ele, uma vida séria e verdadeira ou uma ilusão que tu próprio constróis, uma vida com sentido ou uma vida de mer***...
E afastei-me.
Não sei se mais revoltado e triste com a minha incapacidade de lhe fazer brilhar os olhos ou se com a sua falta de vontade em olhar a vida com esse brilho feliz...
Meu Deus, concede aos jovens o dom da perseverança. E a mim também...