Depois de muitas expectativas alimentadas na grande cidade, lá voltamos nós à nossa pequena aldeia da vida comum, com desalento e tristes.
“Ainda
não foi desta vez, nem com este homem, que as coisas mudaram” – repetimos um ao
outro.
“Colocámos
n’Ele tanta esperança, confiámos tanto nas suas palavras, vimos tantas coisas
maravilhosas. Mas tudo acabou no fracasso. Ele não nos mudou a vida.”
Aproximou-se
então um Desconhecido, vindo não sei de onde, e começou a caminhar connosco sem
qualquer convite da nossa parte.
“Do
que falam vocês no caminho da vida? O que vos preocupa, entristece e carrega o
vosso andar pelas curvas da história?”
“Sabes
lá o que é tristeza, preocupações ou sofrimento?” – rematamos nós. “Com essa
pergunta deves ser o único que pensa que a vida é bela e amarela.”
“Contem
lá o que vos incomoda” – insistiu o Estranho.
“Na
desorientação da nossa vida, e porque dificilmente conseguimos orientarmo-nos a
nós próprios, colocámos as nossas esperanças em Jesus de Nazaré. Ele dizia
coisas maravilhosas, que eram acompanhadas de acções que as comprovavam. Nós
esperávamos que fosse Ele a dar novo sentido ao nosso viver. Mas as autoridades
da nossa instalação; os sumos-sacerdotes do nosso egoísmo, pecado e horizontes
curtos; os fariseus da nossa hipocrisia e falta de coerência; e os escribas da
falta de coragem e decisão crucificaram-no e mataram-no.
Nós
esperávamos que fosse Ele a fazer as coisas por nós. Mas já lá vai o terceiro
dia e nada mudou. Algumas mulheres do nosso grupo – a Esperança, a Fé e a Caridade
– assustaram-nos por fazerem, realmente, muito sentido nas nossas vidas e
diziam que Jesus não tinha morrido. A razão e o sentimento foram ao túmulo e não
encontraram lá a nossa vida. Mas a Jesus ninguém O viu.”
E
o Desconhecido aponta-nos esta lança: “Homens sem entendimento, sem horizontes
de vida, sem esperança nem fé nem confiança para perceber a vossa própria história.
Então o Messias não tinha de sofrer tudo isso para vos mostrar e levar para
Deus?”
E,
desde Moisés e passando pelos profetas, explicou-nos o sentido das Escrituras e
como elas iluminavam a nossa vida com a luz de Deus que é o próprio Cristo.
Quando
chegámos à nossa aldeia da vida quotidiana, o Desconhecido fez questão de
continuar o caminho para diante. Nós insistimos com Ele: “Fica connosco. A
nossa vida já vai adiantada e a noite do sem sentido de viver aproxima-se”.
O
Desconhecido entrou, então, na casa da nossa vida pessoal, sentou-se à mesa das
nossas decisões, tomou o alimento do amor, partiu-o e entregou-nos.
Nisto
os nossos olhos abriram-se e nós reconhecemos Jesus. Aquele que por nós se
entregou por amor. Mas o amor tinha desaparecido da nossa vista.
Confessámos
um ao outro: “Não nos ardia o coração quando Ele nos explicava as Escrituras
como uma história de amor entre Deus e a humanidade?”
No
mesmo instante levantámos a nossa vontade e voltámos para a cidade dos grandes
objectivos. Lá estavam os outros Onze, reunidos no amor, que nos confirmaram: “Realmente
Jesus ressuscitou! Iluminou com a Sua vida nova a nossa razão de viver.”
E
nós contámos o que nos tinha acontecido no caminho da vida e como recebemos e
reconhecemos Jesus ao repartir o alimento do Seu amor.
(É
uma visão pessoal do texto)
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