sábado, 27 de maio de 2017

Uma alegria escondida? Será um tesouro?



A alegria, que foi a pequena publicidade do pagão, é o gigantesco segredo do
cristão. E no fechamento deste caótico volume torno a abrir o estranho livrinho
do qual proveio o cristianismo; e novamente sinto-me assombrado por uma
espécie de confirmação. A tremenda figura que enche os evangelhos ergue-se
altaneira nesse respeito, como em todos os outros, acima de todos os pensadores
que jamais se consideraram elevados.
A compaixão dele era natural, quase casual. Os estóicos, antigos e
modernos, orgulhavam-se de ocultar as próprias lágrimas. Ele nunca ocultou as
suas; mostrou-as claramente no rosto aberto ante qualquer visão do dia a dia,
como a visão distante de sua cidade natal. No entanto, alguma coisa ele
ocultou. Solenes super-homens e diplomatas imperiais orgulham-se de conter a
própria ira. Ele nunca a conteve. Arremessou móveis pela escadaria frontal do
Templo e perguntou aos homens como eles esperavam escapar da danação do
inferno. No entanto, alguma coisa ele ocultou. Digo-o com reverência; havia
naquela chocante personalidade um fio que deve ser chamado de timidez.
Havia algo que ele encobria constantemente por meio de um abrupto silêncio
ou um súbito isolamento. Havia uma certa coisa que era demasiado grande para
Deus nos mostrar quando ele pisou sobre esta nossa terra. Às vezes imagino que
era a sua alegria.
 
                   G. K. Chesterton, Ortodoxia, última página...

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