sexta-feira, 29 de abril de 2011

A lição da Páscoa

Neste Domingo de Páscoa "vemos e acreditamos" que Jesus ressuscitou. Ele tinha de ressuscitar!
Transcrevo um texto do jornal "SOL", do dia 21 de Abril de 2011, da autoria do teólogo João António Pinheiro Teixeira. Agradeço a quem me deu a conhecer este texto para relembrar a lição da Páscoa.
Santa Páscoa para todos.

AMOR, AUTORIDADE E A PERENE LIÇÃO DA PÁSCOA

A Páscoa não é a evocação vaporosa de uma época distante. Ela é a novidade perene oferecida ao homem e inscrita no tempo.
Não é em vão que ela ocorre sempre na Primavera, quando a natureza se solta. E, quase sempre, em Abril, quando, entre nós, a liberdade se celebra.
O Evangelho, até no mais ínfimo pormenor, tem a preocupação de realçar tal novidade.
A referência que nele é feita ao «primeiro dia da semana» (Jo 20,1) surge em nítido contraste  com o dia anterior, o último dia.
No caso do último dia, respira-se morte. Já no alvorecer do primeiro dia, volta a despontar a surpresa da vida.
O sinal da morte está removido. A pedra no sepulcro seria como um ponto final num texto. Afinal, o texto iria continuar.
Sucede que, num primeiro momento, a reacção é de alarme. Não se trataria de uma vitória da vida, mas do furto de um cadáver (cf. Jo 20,2).
São, então, avisados dois dos discípulos de Jesus: Pedro e João, duas personalidades e dois sinais. Pedro representa a autoridade, João simboliza o amor.
Pedro sai com João rumo ao sepulcro. Ou seja, a autoridade não dispensa o amor na procura de Jesus.
Mas, a determinada altura, João antecipa-se. Na verdade, o amor vai sempre à frente e chega sempre primeiro.
Como refere o comentário de Mateos-Barreto, «corre mais depressa o que tem a experiência do amor, o que foi testemunha do fruto da Cruz».
De facto, na hora da morte, so o amor (João) esteve presente. A autoridade (Pedro) ausentara-se, retraída. Só o amor é capaz de vencer o medo.
João chega primeiro ao sepulcro. É pelo amor que se atinge a meta e se chega a Deus.
Só que, como reconhece São Paulo, o amor também sabe ser paciente, também consegue esperar e, aspecto nada negligenciável, nunca é invejoso (cf. 1Cor 13,4).
João vê o sepulcro vazio, mas não entra. Aguarda que Pedro venha. O amor respeita a autoridade. Até porque sabe que, na Igreja, a autoridade está ao serviço do amor.
Não se trata de um mero acto de deferência. É, sobretudo, um gesto de reconciliação.
É que, com as negações de Pedro (cf. Jo 18, 15-17. 25), era a autoridade que vacilara, vacilara no amor. Agora, o amor dá uma nova - e definitiva - oportunidade à autoridade.
O amor é humilde. Sabe que a autoridade tinha negado Jesus, mas, por isso mesmo, deixa-a entrar em primeiro lugar para que, em primeiro lugar também, expresse o seu amor.
O amor é mesmo assim: uma sucessão de começos. A autoridade sente-se reabilitada e segura por correr atrás do amor.
Na Igreja de Jesus, a autoridade só faz sentido em função do amor. A autoridade não vale por si mesma. Ela só tem sentido através do amor, pela mediação do amor.
É o amor que aponta o caminho à autoridade. Sem amor, a autoridade perde o norte, a bússola.
A autoridade é necessária. Mas ela é apenas instrumental. Existe para tornar presente o essencial. E o essencial é o amor.

Na imagem: Pedro e João correm ao sepulcro de Eugène Burnand

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