segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A dor de ser perdoado

Já deves ter experimentado aquela sensação desconfortável quando fizeste asneira e entras sorrateiro em casa e, ao chegar junto do teu pai (ou mãe) reparas para ele e percebes no seu olhar que ele sabe da asneira que fizeste, mas que nem por isso fica com cara de reprovação.
Imagina o rosto de teu pai com um ligeiro sorriso, daqueles que te irritam porque te sabes nu diante dele. Aquele sorriso e aquele olhar como que a dizer-te sem palavras: Vá, diz lá o que fizeste. Admite o mal que eu e tu sabemos que praticaste.
Pensas para contigo: "O raio do homem conhece-me mesmo bem..."
Sentes a vergonha de ter sido "apanhado" mas, ao mesmo tempo, tens aquele sentimento de "eu tenho um pai que me conhece e me ama".
É este sentimento que tu não queres perder porque sabes que, se esticares a corda, desiludes o teu pai e o levas a pensar: "Não aprendeu a lição. Abusou da minha confiança. Desperdiçou o meu perdão. Traiu o meu amor." É pensar nisto que mais faz doer o coração. É isso que te leva a evitar o mal e o pecado.
É isso que te leva a amar o Pai e a não ter medo dele. Não é o medo do Pai, do seu ralhete, castigo ou puxão de orelhas que me afasta do mal, mas sim o não querer desiludir o Pai por não querer ou saber corresponder com amor ao seu amor.
Ser perdoado dói...
A união de amor com o Pai faz-nos únicos para ele e, por isso, não desiste nem abdica de nós. O pastor procura a única ovelha que se perdeu e a mulher a única moeda que deixou cair (Lc 15, 1-7. 8-10).
A vergonha do pecado e a falta de confiança no perdão de Deus leva, por vezes, a ovelha a esconder-se nas rochas do orgulho quando sente o pastor por perto à sua procura, gritando pelo seu nome.
Apesar de me perder preciso de me deixar encontrar.
E até gritar (ou berrar) para que o pastor saiba onde estou e me encontre mais depressa. Não devo fugir do pastor quando se dá o encontro, mas sim deixar-me agarrar para que Ele me coloque aos seus ombros. E ficar bem junto dele.
É assim o amor exagerado de Deus.
Eu até podia voltar sozinho para o redil já que também cheguei ali meu próprio pé.
Mas o Pastor faz questão de que eu sinta os seus passos, o seu cansaço, o seu esforço por minha causa, o seu respirar aliviado por me encontrar e até alguma palavra de carinho que só se diz baixinho.

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