Depois
do sofrimento e da confusão causada pelo pecado, sinto no meu coração a
antecipação de algo novo, aquela dor na barriga de que algo está para
acontecer.
Senti-me
perdoado porque Cristo está vivo. Ele não morreu nem me deixou morrer. É assim,
de facto.
O
pecado que me feria não me matou porque Cristo morreu por mim. O estado de
morte – ou de recusa da vida – não foi total porque a morte foi vencida.
Há
qualquer coisa dentro do peito que quer rebentar para fora. Corre!
Vê
o lugar onde jazias. Tu não estás lá porque alguém assumiu esse lugar. E esse
Alguém também não está morto.
Corre
a minha razão e o meu sentimento (Jo 20, 1-10). Chega primeiro o sentimento,
que é sempre mais apressado e precipitado. Chega mas não tem coragem para
entrar.
Chega
depois a razão, mais cautelosa, e por isso vai mais devagar. A razão entra e vê,
mas não entende. Como pode ser?
Entra,
então, o sentimento. Aquilo que não vê e o pouco que vê bastam. Viu e
acreditou!
Ainda
não tinham entendido porque esse entendimento vem pela Palavra reveladora: era
assim que tinha de ser!
Contra
toda a lógica, e no meio da confusão dos sentimentos. Mas aconteceu!
Fui
devolvido à vida! A uma vida nova, transformada pelo amor que experimentei no
meio do desespero do pecado.
A
fé voltou. Compreendeu pelas Escrituras, sentiu no coração e experimenta na
vida.
Ainda
não vejo essa vida renovada, mas já não vivo na velha condição do pecado.
Sinto-me
livre e recuperado da luta que Alguém travou por mim e comigo.
Mas
não está tudo feito… Choro.
Queria
tocar, ver e ouvir Aquele que me acompanhou.
Mas,
afinal, quem procuro (Jo 20, 11-18)? Aquele que me libertou ou os restos
daquele que foi libertado? Se a vida é nova como a conheço?
Ouço
o meu nome. Reconheço-me.
“O
essencial está feito. Agora és tu que tens de caminhar. Não me detenhas,
esperando que Eu faça o caminho por ti. Eu libertei-te e dei-te uma vida nova.
Merece-a! Vive-a! Eu sou essa vida nova. Vive em Mim!
Já
não sou apenas o companheiro; mas sou o caminho e a meta. Já não sou apenas o
dedo que aponta o mal; sou o critério para o perceber.
Eu
vou para o Pai para levar comigo a tua vida e a da humanidade inteira. O
caminho ainda não terminou. Apenas venceste uma batalha na luta da vida.”
E
eu vi o Senhor!
Na
minha vida perdoada, no alento renovado para fazer caminho.
E
na conversa ao telefone com aquela pessoa que, das profundezas do sofrimento
que esmaga, se ergueu mais forte e renovada.
Encontrei-me
porque O encontrei. E encontrei-O em ti que comigo caminhas e me ajudas a
caminhar com o teu testemunho sofrido.
Senhor,
não quero voltar a trair-Te.
É
nestas minhas chagas abertas que vejo os sinais da ressurreição. É nessas
feridas que não desaparecem, mas que já não doem, que percebo as minhas limitações
e enganos e o quanto isso me escraviza.
É
nessas feridas que sinto a dor de ser perdoado e re-ligado.
Dizia
Newman que o padre é o “curador ferido”. Pois são essas chagas o meu púlpito!
Meu
Senhor e meu Deus (Jo 20, 19-31), que o medo de voltar a falhar e a trair-Te não
me paralise. Que a paz alcançada pela grande luta me afaste do pecado e seja
vivida com e para os outros. Só a Ti sirvo (Senhor) e só a Ti adoro (Deus)!
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